Sunday, November 4, 2018

Como não ser vítima da sociedade

É certo que ter um exemplo a seguir ajuda muito, no meu caso, meu tio oficial e comandante da Marinha Mercante, mas só o exemplo não vale de nada se você não criar as suas oportunidades.
Vou tentar resumir aqui o máximo que eu puder como eu venci na vida.

Eu nasci em Duque de Caxias e como minha avó, sempre diz: "Venho para o Grajaú com sete dias de nascido" e assim fui criado no Grajaú até meus vinte e muitos anos. Tive uma infância muito boa, nada me faltou, mas a situação mudou quando eu era adolescente e aí as coisas ficaram feias para nós.

Lembro que minha mãe ia ao mercado comprar uma mistura de sobras de queijo picados para nos dar um pouco de luxo no café da manhã e de um dia que só tinha para comer farinha e cebola e foi isso que fiz frito na frigideira. Lembro que minha casa, velha e sem manutenção, em um dia de chuva o teto da cozinha parecia que tínhamos uma cachoeira dentro de casa que caía água em cima do fogão.

Mas vamos lá, chega de drama e história triste, apesar das dificuldades tinha uma vida boa com minha mãe, família e amigos e tenho saudades da minha vida no Grajaú e quando criança passava férias em Belford Roxo.

Diante de tanta falta de dinheiro eu vi que tinha que trabalhar e comecei trabalhando no Grajaú Country Club, na lanchonete do clube. Fazia de tudo desde limpar o chão até carregar caixas de cerveja, ser caixa, fritar salgados e etc... Era um bico, trabalhava só aos finais de semana ao menos para ter R$ 20 reais ou algo para fazer coisas de adolescente, depois virei entregador de quentinhas em Botafogo, segurança, professor particular de informática mas sempre segui estudando.

Meu início de ensino secundário foi um pouco ruim, achava a escola chata e repeti duas vezes a quinta séria. Fiz 3 anos de quinta série e depois vi meus amigos saindo do colégio que fizeram minha primeira quinta série e decidir mudar e comecei a estudar.

Até que um dia uma pessoa foi à escola municipal que estudava, no Grajaú, para falar sobre o concurso para a Fundação Bradesco, naquela época já era um dos três melhores alunos da escola por notas simplesmente e fiz o concurso.

Passei no curso de Processamento de Dados, na repescagem, mas passei.

Esqueci de dizer que meu local preferido para estudar no secundário era a Biblioteca Pública Estadual do Rio de Janeiro.

No ensino médio, como não tinha compudator e internet em casa, todos os dias nos primeiros anos, chegava sempre as 4 da tarde para ficar no computador praticando e estudando.

As aulas só começavam as 18 eu acho. Mas chegava cedo para ficar no laboratório. Depois consegui fazer um curso básico de informática por fora na Secretaria de Trabalho de Botafogo e sempre segui estudando e depois entrei para a Falculdade da Cidade e posso dizer que a Fundação Brasdesco foi o divisor de águas da minha vida.

Esqueci de dizer que fomos despejados da casa no Grajaú e minha mãe e eu fomos morar em Belford Roxo. Sendo difícil e longe morar lá e trabalhar no Rio fiquei alguns meses morando na casa do meu tio na Barra até que eu encontrei um empresa na Barra para trabalhar como desenvolvedor em sistemas para supermercados. Minha formação técnica e os donos dessa empresa que sou amigo até hoje foram a principal alavanca para tudo que sou hoje profisisonalmente.

Fui funcionário do Banco do Brasil, concursado por 9 meses, mas na época o salário era tão baixo e vivia com minha mãe (avó) e irmã e tinha que pagar tanta conta que resolvi sair e voltar para a empresa que trabalhei por 4 anos na Barra e fazer meu curso superior. No Banco do Brasil não sobrava dinheiro era tudo para pagar contas. Na Barra trabalhei em uma empresa de consultoria fazendo sistemas para supermercados e lá me deram muitas oportunidades. Saí do Brasil em 2008 e em 2015, convidado para ser sócio da empresa na Barra, fiquei um ano no Brasil, mas deixei com muita tristesa tudo devido a violência.

Isso foi um resumo da minha trajetória. Não fui vítima da sociedade, vi muita coisa na vida um exemplo pode ajudar, mas senão tiver exemplo, crie oportunidades para você.

Saia de casa, estude sempre. Mesmo no Brasil que há dificuldades, sempre existe um lugar que você pode fazer um curso grátis; uma ONG ou escola pública de qualidade que se você tiver foco e nunca abandonar seus estudos você consegue. Eu nunca fui gênio, sempre fui e continuo sendo muito esforçado!

Se eu consegui todo mundo consegue. Basta querer de verdade. Trabalhei com informática além do Brasil, no Canadá e na França.

Hoje eu trabalho em um Instituto de Pesquisas Marítimas nos Países Baixos (Holanda) como desenvolvedor de sistemas para auxiliar os cientistas e pesquisadores a difundir suas pesquisas sobre os oceanos para a comunidade científica no mundo.

Falo: Inglês; Frânces; um poquito de Espanhol e estou aprendendo a língua neerlandesa (ou holandês).

Esforce-se e você vencerá. Até hoje eu lembro do coordenador do curso da Fundação Bradesco de TI (Tecnologia da Informação) o que ele disse: "Quem levar a sério os cursos que oferecemos aqui, chegará longe." E eu escutei o que ele disse e aqui estou.

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